Qual a origem da escrita Chinesa?

     Você sabia que, para ser considerado alfabetizado na China, é preciso ter conhecimento de 3500 caracteres chineses? Parece muita coisa e também muito complicado, mas, olhando a história dos ideogramas, é possível entender que o hànzì (漢字) – ideograma chinês – na verdade teve uma origem bem intuitiva que, se você prestar atenção, dá pra identificar e decifrar alguns desses caracteres facilmente até hoje.

     A escrita chinesa, hànzì (漢字), é considerada uma das mais antigas reconhecidas no mundo. Sendo datada desde meados de 1300 a.C. com símbolos e marcas encontrados em ossos de animais e cerâmicas na província de Anyang, leste da China. Contudo, existem teorias de que é ainda mais antiga que isso. Assim, Confúcio (孔子), pensador e filósofo Chinês, menciona acreditar que a escrita existe desde 2000 a.C. Porém, como não foi possível ainda provar este argumento, historiadores não consideram essa data.

A ORIGEM DOS IDEOGRAMAS PELA LENDA DE CANGJIE

     Existe uma lenda chinesa que explica a origem dos ideogramas. A lenda afirma que o hànzì (漢字) foi criado por Cangjie (倉頡), um burocrata do lendário Imperador Amarelo, ou huángdì (黃帝), em meados de 2.500 a.C.

     Nessa época, os chineses usavam pedras e cordas para registrar o necessário, porém era altamente ineficaz. Vendo isso como um problema, o Imperador Amarelo ordenou para que Cangjie (倉頡) elaborasse uma nova forma de registro de informações que funcionasse para que fosse possível registrar informações importantes sobre eventualidades.

     Cangjie (倉頡) partiu em sua jornada e teria sido inspirado pelas formas naturais do mundo e dos animais, criando, então, os pictogramas iniciais. Segundo a lenda, Cangjie (倉頡) criou o zì (字) que seria a primeira sequência de caracteres chineses e que, no mesmo dia da criação, choveu grãos do céu e, durante a noite, fantasmas e demônios choravam por não conseguirem mais enganar os humanos. A partir da lenda, esta seria a origem dos ideogramas.

PERSPECTIVA HISTÓRICA

     A princípio, a unificação da China em 221 a.C. teve grande papel na origem dos ideogramas e como eles são hoje em dia. Isso porque existia uma grande diversidade na escrita chinesa naquela época e o conhecido como o Primeiro Imperador, Qín Shǐ Huáng (秦始皇), que foi responsável por unificar os Estados Combatentes (ou os Sete Reinos Combatentes) e criou o primeiro império chinês, ordenou que o primeiro-ministro (chanceler), Lǐ Sī (李斯), criasse um modelo para padronização e unificação dos caracteres chineses, denominado de “Selo Menor” ou xiǎozhuàn (小篆). Esse modelo excluía todos os símbolos não utilizados na região comandada pelo imperador, totalizando em cerca de 3000 ideogramas.

     Através dos tempos, é possível acompanhar as “eras” da escrita chinesa. Os estilos de caligrafia passaram por períodos que podem ser facilmente identificados:

1 – Jiǎgǔwén (甲骨文): Escrita de “oráculo”, feita em ossos oraculares,ou seja, a escrita mais antiga e elementar;
2 – Jīnwén (金文): Escrita de “bronze”, gravada em bronze (placas ou vasos de bronze);
3 – Zhuànshū (篆書): Escrita de “selo”, normalmente gravada em bambu, madeira e seda usando carimbos. Essa ocorrendo durante a dinastia Qín;
4 – Lìshū (隸書): Escrita “clerical” ou escrita de chancelaria, que era usada oficialmente pela dinastia Han;
5 – Por fim, temos Kǎishū (楷書) – Escrita “regular”, Hángshū (行書) – escrita semi-cursiva, e a Cǎoshū (草書) – cursiva, que são usadas atualmente.

    Entretanto, é curioso que, na China, também existem várias outras formas de escrita que não estão inteiramente ligadas ao chinês. Por ser um país tão populoso e extenso, a cultura se diferencia muito de região para região. Por isso, os caracteres sofrem alterações e até mesmo grande influência de outras nações.

QUAIS AS DIFERENTES ORIGENS?

Podemos observar as seguintes escritas: mongol, muito utilizada na Mongólia interior, atual território chinês que faz fronteira com a Nação Mongol; Tibetana, usada no Tibete que é considerado região autônoma chinesa; Uigur, usada pela população de origem turca concentrados no noroeste da China, na província de Xinjiang; Zhuang, de origem tailandesa, mas utilizada no sul da China, na região autônoma Guangxi; Manchu, usada pelo povo da etnia manchu, que já está quase extinta e persevera através de línguas criadas a partir dela, como a xibe, sendo usada no nordeste da China, nas províncias de Heilongjiang, Jilin e Liaoning.

E, por fim, hanzi, que corresponde à escrita tradicional da China, usada atualmente em sua versão simplificada ou tradicional. Sendo Macau, Taiwan e Hong Kong adeptos à escrita tradicional e as regiões correspondentes à China continental ao simplificado. Também é possível identificar alguns derivados da escrita chinesa, como nu shu, jurchen e tangut.

DE PICTOGRAMAS PARA LOGOGRAMAS

    O hànzì (漢字) passou por um longo processo de adaptação. A princípio, é possível entender o quão complicado é criar símbolos para englobar toda uma língua, então está dentro da lógica começar pelo mais simples.

    Na teoria, o que acontecia era que os chineses desenhavam objetos simples como forma de comunicação escrita. Uma árvore, por exemplo, era desenhada levando em consideração os galhos e as raízes. Sua progressão ao longo dos anos a transformou no caractere usado atualmente para árvore/madeira (mù): 木.

A evolução do ideograma 木 (mù), de árvore

     Outro exemplo seria o caractere usado para sol. Em resumo, a primeira versão do símbolo foi teorizada por historiadores como algo similar a um círculo com um ponto no meio. Depois de séculos de pequenas adaptações, formou-se o caractere para sol (rì): 日.

    Entretanto, para conseguir uma variedade maior de significados, alguns caracteres foram usados em conjunto para expressar algo relacionado. Em outras palavras, juntando um significado com outro significado, era possível dar significado para outra coisa. Olhando com o exemplo da árvore (mù), 木, ao juntar esse caractere com o usado para pessoa (rén), 人, temos o ideograma para descansar (xiū): 休. Ou se colocarmos árvore 木 + árvore 木 temos floresta (lín): 林.

PALAVRAS DE MESMO SOM

    Assim, se repararmos bem, palavras com o mesmo som podem ter o mesmo ideograma com adaptações correspondentes ao que ela representa. Por exemplo, temos as palavras orvalho e estrada. Ambos são pronunciados lù, porém, para diferenciar ideograficamente as duas palavras, juntou-se o símbolo da palavra lù (路) com o caractere que indica chuva, yǔ (雨), para formar o caractere de lù (露) que significa orvalho. Observamos então, neste caso, a palavra que já tinha um som acrescentada de algo para indicar seu significado: lù + chuva = orvalho. Outras palavras foram montadas com ideias de caracteres similares, mas por ser uma língua muito antiga, é complicado decifrar a origem dos ideogramas.

    Por fim, como podemos imaginar, palavras, frases e até mesmo textos são um processo de reconhecimento de ideogramas muitas vezes usando da lógica e a prática para desenvolver a capacidade de ler e escrever em hànzì (漢字).

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