Por que saber só o pīnyīn não é o suficiente?

O pīnyīn é definido como a transcrição dos ideogramas chineses para uma forma romanizada. Ou seja, a forma fonética do idioma. A diferença entre a escrita tradicional e simplificada é algo que já comentamos, porém vale a pena entender um pouco do motivo por trás do pīnyīn e porque somente saber o pīnyīn não é o suficiente.

SIMPLIFICADO, TRADICIONAL E PINYIN

Primordialmente, o chinês escrito e falado são dois tópicos diferentes. Isso porque o chinês escrito pode ser dividido em três categorias:

  • Chinês TRADICIONAL
  • Chinês SIMPLIFICADO
  • Pīnyīn

E o Chinês falado é dividido em idiomas e dialetos. Por isso, é possível encontrar lugares na China em que o idioma falado é o cantonês (粤语 – yuè yǔ) e outros em que o hakka (客家话 – kèjiā huà) prevalece. Entretanto, em toda a região chinesa, o mandarim é usado como “idioma/dialeto universal”.

ALTO ÍNDICE DA POPULAÇÃO ERA ANALFABETA

Rua lotada em Honk Kong
Causeway Bay, Hong Kong por Joseph Chan/Unsplash

A princípio, em 1949, com o surgimento da República Popular da China, foi reconhecido um grande índice da população analfabeta (chegando em 80% da população total chinesa). Estipula-se que isso tenha sido causado pela falta de unificação escrita e fonética entre os diversos dialetos e idiomas que ocupam o país.

Outro motivo é que o fato também estaria relacionado com as recentes guerras e o empobrecimento da nação. Assim, a educação foi diretamente afetada e a China encontrava mais um empecilho: relações internacionais. Este, em função de pequenas iniciativas do governo (mais tarde, em 1978, aprofundadas notoriamente pelo governo de Deng Xiaoping).

SIMPLIFICAÇÃO DOS CARACTERES

Taiwan
Taiwan por Henry & Co./Unsplash

Durante o governo de Mao Tsé-Tung (1949-1976), apesar das noções políticas de que a China seguia o modelo econômico socialista, Mao deu alguns passos em direção à internacionalização econômica chinesa e também para combater o analfabetismo da população. Na década de 1950, então, passou a ser iniciado o processo de SIMPLIFICAÇÃO dos ideogramas chineses. Dessa forma, com os traços resumidos, a escrita chinesa estaria mais acessível.

De certa forma, simultaneamente (mas implementado somente em 1958), uma versão da escrita para estrangeiros estava sendo desenvolvida, quando um comitê de especialistas linguísticos do país foram designados para desenvolver o 拼音 (pīnyīn). Entre eles, inclusive, o notório linguista e filólogo chinês, Zhou Youguang. Sua função, a princípio, seria unificar a fonética em forma romanizada (alfabeto usado em países como o Brasil e Estados Unidos), assim amplificando a facilidade da compreensão da língua para a comunicação exterior.

CHINA E A FONÉTICA

A fonética chinesa, através do mandarim, é uma forma de facilitar a compreensão da língua por estrangeiros. O pīnyīn é uma ponte facilitadora para o idioma, porém usá-lo como base para seus estudos pode ser um caminho complicado de se seguir.

No chinês, muitos ideogramas possuem fonéticas parecidas ou iguais, como a palavra qí (骑 – montar/cavalgar/pilotar) que possui a mesma fonética e pīnyīn  que qí (奇 – estranho). Para entender a diferenciação existem duas opções: entender a partir do contexto em que a palavra é falada, ou ler o ideograma da palavra.

Essa possível confusão não deve ser subestimada. A falta da compreensão dos ideogramas impõe uma barreira linguística que já é tão persistente entre nativos e estrangeiros. As várias formas de facilitar o acesso à linguagem sem perder a cultura e a escrita usada há tantos milênios, é a maneira chinesa de preservação que demonstra a responsabilidade dos não-habitantes de buscar entender e propagar a forma culturalmente usada da escrita. O pīnyīn, então, iria cumprir sua função de facilitador sem retirar a importância da compreensão dos ideogramas.

 

PLACAS, ACESSIBILIDADE E IDEOGRAMAS

Cidade de Taichung, Taiwan
Taichung, Taiwan por Mark Ivan/Unsplash

Dentro da China, muitas regiões tendem a usar somente a escrita chinesa TRADICIONAL como a principal usada em comunicação pública. Ou seja, todas as placas, jornais, revistas, marcas, entre outros, tendem a usar a escrita tradicional ou, pelo menos, a forma simplificada. Lugares como Hong Kong ou até mesmo Beijing (Pequim) usam o tradicional como forma de comunicação pública. Uma coisa é certa: estará em ideograma. 

Assim, entender somente o pīnyīn torna-se uma desvantagem para o estrangeiro. Ainda se levando em consideração seu conhecimento em mandarim ou outro dialeto. Então, somente duas formas de escrita são consideradas primordiais dentre todas as regiões governadas pela República Popular da China, tradicional e simplificado. Variando sua utilização principal dependendo da província, região ou cidade.

DESNECESSIDADE

Shanghai, China
Shanghai, China por Nuno Alberto/Unsplash

Ainda sobre a comunicação escrita geral na China ser em chinês tradicional ou simplificado (ideogramas), vale refletir sobre a falta de necessidade da tradução geral do idioma para o pīnyīn. Com o índice de alfabetização chinesa em 96.8% para habitantes acima de 15 anos de acordo com dados oferecidos pela Central Intelligence Agency (C.I.A) – acesso OUTUBRO/2021 -, isso indica que apenas 3,2% da população é considerada analfabeta. Em outras palavras, de 1949 até 2021, os efeitos da simplificação dos ideogramas na década de 1950 surtiram efeito, e quase toda a população dos mais de 1 bilhão de chineses usam a escrita em forma de ideogramas.

O chinês simplificado também foi uma forma de incentivo aos estrangeiros a aderirem à escrita ideográfica. Pelos traços simplificados, a aprendizagem também se torna mais simples. De qualquer maneira, por ser uma forma de comunicação primordial no país, não existe a necessidade de tornar o pīnyīn uma modalidade principal da língua para ser usado assim como o tradicional e o simplificado.

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