O hábito de pechinchar na China

     Você já ouviu falar em pechincha? O hábito de pechinchar ou barganhar é muito comum entre os chineses. Tanto que, muitas vezes, o preço anunciado pode chegar ao triplo ou até quádruplo do valor barganhado. Ou seja, anuncia-se o preço com a expectativa da pechincha.

O QUE É BARGANHA?

Mercado em Sham Shui Po, Hong Kong (por Paulo Evangelista/Unsplash)

     A pechincha ou barganha é uma forma de negociar durante uma compra. Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, não é sobre ser mesquinho. Muito pelo contrário!

     Muitos lugares já esperam que a barganha aconteça e entendem que é um processo natural dentro da economia. Não é desvantagem para o vendedor, por exemplo, negociar o valor da venda do produto.

CRÉDITO, DÉBITO, PIX OU DINHEIRO

     A princípio deve-se entender que existem quatro maneiras de realizar uma compra: cartão de crédito ou débito, PIX ou dinheiro. Para o vendedor, não é muito vantajoso fazer a venda no crédito porque existem diversos custos envolvendo a maquininha do cartão.

     Assim, até 30% do valor da venda pode ir para despesas envolvendo a maquininha, incluindo o aluguel dela. Sem mencionar que o valor pode demorar cerca de 30 dias para cair na conta dele. No débito, ainda que possua taxas assim como no crédito, os juros são menores e o dinheiro cai em cerca de dois dias após a compra na conta do vendedor.

     O mais vantajoso seria o pagamento em PIX (transação direta digital sem juros) ou no dinheiro. Desta forma, não existem taxas a serem cobradas, então é possível conseguir um valor bem abaixo do anunciado pelo produto à venda.

ONDE SURGIU O HÁBITO DE PECHINCHAR?

Pessoas no night market em Keelung, Taiwan
Pessoas no night market em Keelung, Taiwan (por Andrew Haimerl (andrewnef)/Unsplash)

     Primeiro é importante entender que a China é referência comercial e econômica há muitos séculos. Por isso, este hábito de barganha é muito antigo e, mais importante, uma questão cultural.

     Esse hábito, apesar de não ser exclusivo chinês, passou a ser mais conhecido com a expansão comercial entre o ocidente e o oriente ao fim da Idade Média. Isso acontece porque a necessidade de negociar se tornou algo constante entre mercadores. Assim, com a expansão marítimo-comercial, a busca por insumos orientais se tornou mais frequente.

NEGÓCIO DA CHINA

Mercado em Taiwan
Mercado em Taiwan (por Yeo Khee/Unsplash)

     Pechinchar tem a ver com conseguir o melhor negócio. Ou seja, um lucro que faça sentido para as duas partes envolvidas em uma venda. O hábito de pechinchar é somente outra maneira de pedir desconto ou conseguir o melhor negócio pelo produto.

     A ideia de uma negociação lucrativa para ambas as partes é conhecida como “negócio da China”. Isso por conta da forte cultura chinesa de negociar seus produtos nos night markets e nos comércios há vários séculos atrás.

     Desta forma, negociar quer dizer que tanto o vendedor quanto o cliente ganham. Primeiro, o vendedor consegue realizar a venda e, assim, lucrar. Segundo, o cliente consegue o produto a partir de um valor vantajoso. Para o vendedor, também é uma forma de superar a concorrência, em outras palavras, a competitividade do “livre-mercado”.

 

OFERTA, DEMANDA E PECHINCHA

     Muitas vezes é de conhecimento comum entender que o mercado se movimenta pela oferta e demanda. Ou seja, quanto mais pessoas buscam pelo produto, maior o preço dele. O preço do álcool em gel, por exemplo. No último ano, a demanda pelo álcool em gel cresceu muito, então os preços aumentaram bastante.

    Todavia, a relação da oferta-demanda não é 100% definitiva ou não muito relevante no momento de barganha. Devido ao poder de compra, é muito fácil para o cliente buscar uma loja diferente que oferece o mesmo produto por menos. Por isso, faz sentido negociar o valor do seu produto se ele não é exclusivo.

A REAL PECHINCHA CHINESA

Mercado em Hong Kong (por Joshua J. Cotten/Unsplash)

     Como saber adotar o hábito da pechincha como os chineses, ou até pechinchar na China, é algo que pode assustar a princípio, principalmente para as pessoas mais tímidas e facilmente intimidados. Dito isso, a arte da negociação não é nada sutil, muito menos simpática.

     Consequentemente, é muito comum ver nos mercados populares chineses pessoas “discutindo” no meio da loja. Pode parecer “chato” ou insistente demais pedir um valor muito abaixo do anunciado. Entretanto há muitos relatos de clientes que perguntam o preço e, ao se dirigir para fora da loja por achar muito caro o valor do produto, são seguidos pelo vendedor anunciando valores barateados para mostrar que está disposto a pechinchar o valor do produto para não perder a venda.

AS FEIRAS CHINESAS: STREET MARKET

Temple Street Night Market, Hong Kong (por Steven Wei/Unsplash)

     Nos mercados de rua ou feiras chinesas, a pechincha é quase lei. Para estrangeiros, então, é indispensável “ficar esperto” nas negociações. Isto acontece devido ao valor do renminbi (moeda chinesa) ser muito “barato” em relação ao euro, por exemplo. Então é mais fácil cobrar mais caro de estrangeiros porque o preço não dói tanto no bolso quanto de nativo para nativo.

     Ainda assim, os chineses têm o hábito de anunciar o preço acima para outros chineses. A diferença é que o preço anunciado para outro morador da China normalmente é só um pouco maior do que o “valor justo”. Enquanto o valor anunciado para estrangeiros pode triplicar pré-barganha.

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