Chinês tradicional ou simplificado, qual aprender?

POR MARIANNA FERRY

Essa é uma dúvida bem frequente até para quem não tem conhecimento de cultura asiática. Afinal, chinês tradicional e simplificado são duas línguas diferentes?

Para entender um pouco a tal diferença, precisamos voltar lá pro início do século vinte, na China continental – ou seja, as regiões, cidades e províncias oficialmente governadas pela República Popular da China. Em 1920, o número de analfabetos na China era muito alto. Acreditando ser pela complexidade do chinês tradicional (com muitos traços e sem constância entre ideograma e fonética), iniciou-se um lento processo de simplificação dos traços.

DIALETOS, FONÉTICAS E IDEOGRAMAS

Ao longo de todo o país, existem diversos dialetos, como o cantonês e o mandarim, mas isso não está diretamente ligado com a questão tradicional X simplificado. Então, quando falamos de chinês simplificado e chinês tradicional, na verdade estamos nos referindo somente à forma escrita da língua: os ideogramas.

É legal reparar que a China definiu o mandarim como o principal dialeto que qualquer cidade ou província pode compreender. Porém a escrita oficial, principalmente em lugares de acesso públicos (como placas, sinalizações, jornais, revistas e livros), podem variar entre os ideogramas tradicionais e simplificados dependendo da região em que você estiver.

 

Existem mais de 50.000 caracteres chineses, sendo que aproximadamente 7.000 estão em circulação atualmente, e somente cerca de 2.500 foram simplificados. O lado positivo é que aprender as duas versões da escrita não é tão complicado assim já que, mesmo aprendendo o ideograma simplificado, você automaticamente conhece boa parte dos tradicionais.

O QUE SÃO O CHINÊS SIMPLIFICADO E O TRADICIONAL?

O Chinês tradicional nada mais é do que a forma mais “elaborada” dos ideogramas. Em outras palavras: os ideogramas mais complexos de escrever e associados normalmente com um chinês mais “antigo” (daí vem a ideia do “tradicional”). E o Chinês simplificado sendo basicamente a forma que os Chineses encontraram de facilitar a escrita dos ideogramas tradicionais. E isso foi feito de diversas maneiras, apesar de não ter ocorrido com todos os ideogramas.

O ideograma – 汉字 (hànzì) pode chegar a ter mais de 30 traços, como em fungar/nasal – 齉 (nàng) com 36. A diminuição desses traços em alguns ideogramas deixa a escrita mais acessível até mesmo para pessoas que não são chinesas. Essa adaptação vem se espalhando por todo o país. As principais reformas na escrita ocorreram desde 1920 até meados de 1980, e, atualmente, algumas adaptações ainda ocorrem. Em outras palavras: um processo lento que acompanha a sociedade atual.

O ideograma chinês simplificado ou 简体字 (jiǎntǐzì) só começou a ser oficialmente reconhecido em 1956 pela República Popular da China, e é usado ao longo da China Continental. Atualmente, apenas Hong Kong, Taiwan e Macau usam a escrita tradicional como padrão e, mesmo assim, já estão começando o processo de simplificação. O pynyin – forma escrita da fonética do mandarim – também surgiu nos anos 50, este para facilitar o aprendizado dos estrangeiros de uma das línguas mais antigas do mundo.

COMO ACONTECE A SIMPLIFICAÇÃO?

Pelos ideogramas chineses não seguirem a fonética (estudo dos sons do idioma), o chinês é classificado como uma língua de formas, ou seja, símbolos próprios representam palavras. Então não existe uma forma de catalogar o hànzì em ordem alfabética padrão, por exemplo. Mas muitos ideogramas tradicionais sequer são complicados! Vários deles são considerados ideogramas com pictografia: o símbolo usado foi criado em referência a forma do que está sendo citado. Temos como exemplo fogo – 火 (huǒ), que lembra uma fogueira acesa, ou montanha – 山 (shān), que lembra as curvas da montanha.

A simplificação dos ideogramas pode acontecer de diversas maneiras: unindo ou diminuindo os traços, fundindo caracteres, ou simplificando os traços dos radicais que se repetem. Como o radical de idioma/discurso: 讠(yán) – na forma tradicional 言 – usado em mandarim – 汉语 (hànyǔ), ou em falar – 说 (shuō).

POR QUE AINDA SE USA O CHINÊS TRADICIONAL?

A dúvida que fica é: mas por que somente Hong Kong, Taiwan e Macau ainda usam a escrita tradicional? Bom, isso está ligado com fatos históricos. Macau, até 1999, era colônia portuguesa. Isso significa que o governo de Portugal que definia as leis vigentes na região administrativa. O mesmo ocorreu com Hong Kong, que foi colônia britânica até ser “devolvida” para a China, assim como Macau, com a condição de serem estabelecidas como regiões administrativas, em 1997.

Já Taiwan, também conhecida como Ilha Formosa, tem uma história um pouco mais complicada. Em 1927, uma guerra entre os nacionalistas e os comunistas chineses teve início. A China dividida permaneceu em conflito até 1949 com a fase final da Guerra Civil Chinesa. Os nacionalistas fugiram para Taiwan e proclamaram a terra como “a verdadeira China” tornando-se, então, resistente às modernidades da escrita. Até a atualidade, existe um conflito interno no país, já que a China continental considera Taiwan como parte de seu território, mesmo havendo controvérsias internas.

Com exceção das três regiões citadas, o chinês tradicional ainda pode ser visto em muitos lugares fora do país. Isso acontece porque muitos imigrantes chineses optam por manter a tradicionalidade da cultura, prezando muito por manter o legado da escrita tradicional com medo de que ela se perca com o tempo.

ONDE POSSO LER EM 汉字 E 简体字?

Já ficou fácil de entender que somente algumas regiões ainda usam a forma escrita tradicional, o 汉字 (hànzì), que são Taiwan, Macau e Hong Kong. Mas para ler na forma simplificada da escrita, é possível visitar províncias (Anhui, Fujian, Gansu, Guangdong, Guizhou, Hainan, Hebei, Hunan, Jiangsu, Jiangxi, Jilin, Liaoning, Qinghai, Shaanxi, Shandong, Shanxi, Sichuan, Yunnan, Zhejiang), regiões autônomas (Xinjiang, Mongólia Interior, Tibete, Ningxia e Guangxi) e cidades (Pequim, Tianjin, Xangai e Chongqing), tendo consciência de que cada lugar pode variar o dialeto, mas de forma geral, como o mandarim é o dialeto considerado oficial, é compreendido em toda a China (até mesmo em Macau, Taiwan e Hong Kong). Certamente, para aqueles que estudam chinês, a escolha entre aprender o Chinês tradicional e simplificado se resume em qual região você pretende visitar.

Viu como é fácil de entender a diferença entre o chinês tradicional e o simplificado?

Conta pra gente suas dúvidas e curiosidades sobre a cultura chinesa!